Never can say goodbye.

Que fique bastante claro para todos nós uma verdade: tudo na vida chega ao seu ciclo final, cedo ou tarde. Na maioria das vezes, somos arrebatados por uma (amarga) surpresa, mas é preciso não se deixar levar pela emoção, e usar da razão pra entender que todos teremos o nosso último dia.

Não serei insensível a ponto de dizer que tratava-se apenas de um animal, e que por isso, não se deve dar tanta importância. Meu espelho sabe do meu rosto inchado, os meus olhos ardendo e das lágrimas escorridas. Mas não serei também irracional para blasfemar a Deus, ou odiar a tudo e a todos pelo que aconteceu.

Houve culpados, disso nós sabemos. Mas apontar dedos ao tal trará Babbih de volta? Não. Talvez seja um modo um tanto frio da minha parte de se pensar, mas sou adepta da frase "Não se deve chorar pelo leite derramado". Estamos passando pelo comum estado de luto, que apenas se trata de uma resposta normal a qualquer perda importante na vida. Sabemos também que pessoas enlutadas experimentam traumas tanto físicos quanto emocionais, enquanto tentam adaptar suas vidas aos abalos trazidos pela perda.

Há muito tempo, a psicologia reconheceu que o luto experimentado pelos proprietários de animais após a morte destes é o mesmo experimentado após a morte de uma pessoa. A morte de uma animal de estimação significa a perda da fonte de um amor incondicional. Afinal, de um animal, não cobramos nada, nem tampouco é necessário dar muito. E, em troca, recebemos muito carinho e reconhecimento, até mesmo pelo que não fazemos. Animais de estimação são carinhosos, e se nutrem a partir da doação de carinho ao seu dono, e isso somente o faz feliz.

Por isso, é tamanho o choque de um proprietário que tem de dar adeus ao seu bichano, sendo caracterizado por psicólogos como " a perda de contato o mundo natural". Esses sentimentos podem ser especialmente intensos nos idosos, solitários, ou casais sem filhos (para quem o animal é também um substituto da criança).

Apesar de tão bem estudado, o processo do luto não é um objeto concreto que pode ser dividido em partes distintas. O luto é um processo contínuo, em que cada pessoa vivencia-o de uma forma forma diferente. Dividir o luto em "fases" ajuda ao enlutado a entender que os seus sentimentos são normais. Algumas pessoas passam rápido por todas as fases, enquanto outras parecem ficar "presas" numa fase específica. Em tese, existem cinco fases do luto:

1. Choque e negação: A realidade da morte ainda não foi aceita. A pessoa que está sofrendo sente-se atordoada e atônita, como se aquilo que estivesse vivendo fosse irreal (sensação de estar vivendo um pesadelo)

2. Raiva: Impossível dizer que em situações como essas, não é desperdado em nós a raiva. É de suma importância a canalização de tal sentimento, mas que seja em alguma atividade específica, e não colocando a culpa em alguém. Mesmo assim, a pessoa enlutada frequentemente se volta contra a família, os amigos, a ela mesma, Deus, o veterinário ou o mundo em geral. Se a mesma for a dona principal do animal, é normal aparecer também sentimentos de culpa ou medo nesse estágio.

3. Barganha: Nessa fase, a pessoa pede por uma certa "recompensa" de Deus, do veterinário ou do padre. Comentários do tipo "Irei à Igreja todos os dias se o meu animal voltar para mim" são comuns de se ouvir.

4. Depressão: A depressão ocorre como uma reação à mudança do modo de vida ocasionada pela perda. Sentimentos de tristeza, desesperança, inutilidade própria e cansaço são estão presentes, por conta da falta que se sente do animal, e do pensamento constante nele.

5. Aceitação: Esta acontece quando as mudanças que a perda trouxe para a pessoa se estabilizam em um novo estilo de vida. Durante a mesma, ou até tempos depois, o dono pode pensar em comprar outro animal, e a transferir a ele todo o carinho que tinha pelo falecido.

A intensidade e a duração do processo de luto dependem de vários fatores. A idade do proprietário, circunstâncias referentes à morte, relacionamento do animal com o proprietário e com os outros membros da família são muito importantes. Geralmente crianças se recuperam mais rápido , enquanto os idosos são os que mais demoram a se recuperar.

Todos daqui de casa sentem muito a falta de Babbih. E eu ainda não consigo escrever nada conciso e real, porque ainda me encontro entre na fase um. Tudo bem. Logo mais pularei pra cinco, sem precisar ter raiva, barganhar ou entrar em depressão. Isto é, queira Deus.

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Raissa Mateus

Inconfundivelmente inconstante. Mudo de horários, de fatos, de pessoas, de lugares, de estilos, de pensamentos, de atitudes, de conceitos, de rotinas. Já tentei ser parecida com muita gente que eu tomava como modelo, mas aos poucos percebi que não dava certo. Resolvi partir pra outra e tentar ser eu mesma, falando, pensando, agindo e fazendo (ou pelo menos tentando fazer) o que quero. Não sou de muitos, mas dos poucos que sou, sou por inteira. Amo todos com que faço questão de manter contanto. Já fui muito sonhadora, já quebrei muito a cara, já fui muito feliz, já passei por bons, maus, péssimos e ótimos momentos. Já tentei agradar todos, e o exagero de pretensão me faz ainda insistir na possibilidade remota de não ser detestada. Hoje não sou nada mais que um ponto de interrogação junto a um ponto de exclamação. A cada centímetro, uma surpresa, e a cada surpresa, uma dúvida. ;)