A batalha dos lobos.

Não leio emais com frequencia. Por vezes, deixo a caixa de entrada lotar e, quando não tiver mais jeito, apago alguns e leio aqueles cujo título me interessar. Não sei porque, mas MSN e emails nunca fizeram muito o meu gosto. Dia desses, vasculhando pelo hotmail, entre tantos emails engraçados, li um que me chamou a atenção, embora negativamente. Pobremente convidativo, era intitulado de "A batalha dos lobos", e apesar do nome, insisti em abri-lo, e me deparei com essa história:


A batalha dos lobos

Uma noite, um velho índio contou ao seu neto sobre a guerra que acontece dentro das pessoas. Ele disse: "A batalha é entre dois ‘lobos’ que vivem dentro de todos nós. Um é mau: é a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso, superioridade e ego.

O outro lobo, no entanto, é bom: é a alegria, paz, fraternidade, esperança, serenidade, humildade, bondade, compaixão e fé."

O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:
- "Qual lobo vence?"

O velho índio respondeu:
- "Aquele que você alimenta."


O desfecho do texto me surpreendeu bastante e me deixou pensativa por dias. Muitos podem pensar que esse seja só mais um texto bonitinho que só nos comove naquele momento, mas que no próximo minuto, vamos estar mais interessados no email da piada do Joãozinho. Comigo aconteceu diferente; aquele email fez mudar a minha forma de pensar, e me fez admitir que em toda metáfora, há uma gota de sentido literal (embelezando o dito popular: "em toda mentira, há um pouco de verdade").

Diariamente nos envolvemos tanto com os problemas que esquecemos o quanto é importante entender os nossos sentimentos. Muitas vezes, nem nos damos conta das nossas próprias reações. Sei que vivemos num mundo de muitas cobranças e obrigações, o que torna difícil dar conta de tudo. Falta tempo para enxergar o mundo e perceber como reagimos aos seus desafios. Sem querer, magoamos e somos feridos por pessoas conhecidas e desconhecidas até sem intenção alguma. Muitas pessoas andam por aí parecendo um caminhão de lixo. Carregadas de despejos, cheias de frustrações, raiva e desapontamento. À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes, descarregam sobre a gente. Pode acontecer no escritório, no trânsito, na fila do banco, ou mesmo nem casa.o seu próprio lar.

É importante sempre exercitar o afeto e a gentileza em casa, com os amigos, chefes, colegas e com quem cruzar no caminho. Sendo assim, não alimente o círculo vicioso: não pegue o lixo alheio e espalhe sobre outras pessoas. Não permita que o lixo dos outros estrague o seu dia. Aprenda a se adaptar à pressão externa e não se deixar afetar por ela. A chave para mudar o padrão das relações desgastadas ou viciadas, transformar a rotina e recuperar o espírito de entusiasmo e cooperação está em cultivar atitudes baseadas na espiritualidade.

O orgulho conduz à auto-suficiencia e impede a prática do perdão. Como é triste a vida dos que não sabem perdoar... É preciso curar as feridas do coração perdoando a quem nos magoou ou quem a gente pensa que nos fez algum mal. Só assim é possível ter uma vida plena e evoluir com saúde e felicidade.

Se você perceber que anda alimentando um lobo mau, que tal descobrir seus verdadeiros sentimentos e agir de acordo com eles?

- Pare de protelar coisas desagradáveis sem enfrentá-las. Pessimismo não é nem nunca foi a melhor saída.

- Não assuma responsabilidades contra a vontade somente para agradar alguém. Isso se chama submissão.

- Acha que não tem competência para resolver os seus problemas? Os outros estão mais interessados em cuidar da própria vida.

- Confie mais na sua intuição, e no que você acredita.

- Quem só pensa em tragédias ou cultiva valores invertidos, acaba atraindo o que pretende evitar, torturando-se de maneira cruel e obstruindo o seu campo mental. Guardar-se de sentimentos ruins é envenenar-se.

- Lembre-se: quanto mais conhecemos as pessoas, menos cuidamos delas. Algumas frases são mágicas: "Parabéns!", "Eu gosto de você", "Por favor?", "Obrigado!", "Você gostaria?" "Desculpe", "Bom dia!", "Boa tarde!", "Boa noite!". Exercite-as, sempre que possível. Sua educação agradece.

- Vibre com as conquistas alheias. A sua hora também chegará. A vida refloresce todos os dias, jamais esqueça disso.

- Cuide bem da sua boca. Palavras "duras" podem ferir mais do que uma bofetada.

- Não bata de frente. Aprenda a arte da sutileza. Conquiste o que quer com jeito e suavidade. Quem funciona a grito é boiada - sempre disse a minha mãe.

- Demonstre coerência entre pensamento e atitude. Não seja brilhante na teoria e ignorante na prática. Aja, sempre.

- Não culpe os outros pela sua infelicidade. Aliás, não culpe ninguém por isso. Gaste seu tempo na tentativa de reverter esse quadro.

- Só você sabe o que se passa em seu coração. Então, seja sincero(a) com você mesmo e, sempre que preciso, faça um "backup" na sua vida. E, de vez em quando, pare e pense:

Que lobo você anda alimentando?

Sobre forró e afins.

Recentemente, recebi um email bastante analítico no que diz respeito à música que a grande maioria dos meus conterrâneos escutam: o forró. Antes de mais nada, uma breve opinião minha, antes de repassar o texto para quem interessar. Obviamente, concordo ipsis literis com o que professor Jocelino empauta no texto, e me deparei com um semblante entristecido no rosto ao fim da leitura. Por muitas vezes, a realidade - embora estampada à nossa frente e escondida bem debaixo dos nossos narizes - é tão suja e crua que nos negamos a enxergá-la. Depois desse texto, lamentei pelos amigos, colegas e conhecidos que se enquadram perfeitamente nos exemplos de ouvintes da música (de péssimo gosto) aqui relatada. Mas, a tirar por mim, agradeço à minha criação familiar, onde pude contar com pais que me desvirtuaram sempre das más influências musicais, me presenteando atualmente com um "curriculum" musical repleto de compositores e intérpretes bastante influentes. Sei que isso refletiu diretamente no meu caráter e condiz com quem sou hoje. Obrigada, mãe, por me incentivar a escutar Fagner, Caetano Veloso, Guilherme Arantes e Gal Costa, e pai, obrigada por cantar Chico Buarque, Milton Nascimento, Cauby Peitoxo e Luiz Melodia pela casa, tornando a boa música tão aprazível aos meus ouvidos. Pela mentalidade e maturidade educativa, pelo prazer do discernimento do bom e do ruim, e pelo pouco da mulher que sou hoje, agradeço imensamente a vocês, meus queridos progenitores.


Da autora deste blog.


QUESTÃO DE MAU GOSTO, UMA CRÍTICA AO FORRÓ ATUAL

Iniciemos com uma viagem pelo tempo através de algumas lembranças das paradas musicais que “estouraram” na nossa região. A primeira onda que tenho lembrança foi a do rock nacional nos anos 80. Ainda criança, lembro do pessoal ouvindo sucessos de bandas como RPM, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, etc. Me vem à memória também o tempo da lambada quando Beto Barbosa e Selminha estavam “estourados”. Diretamente da Bahia, veio o “furacão” do axé, com destaque para Luiz Caldas e Chiclete com Banana que abriram caminhos para muitos outros que fizeram com que esse ritmo não saísse mais das paradas. Vieram as duplas sertanejas. Vez por outra, principalmente no carnaval, o funk também caia e ainda cai no gosto da galera. Tivemos também o tempo em que os grupinhos de pagode eram a sensação. Enfim, “ondas musicais” não faltaram nos últimos anos.

No final dos anos 80 e começo da década de 90 o forró tinha seu espaço através de nomes como Alcimar Monteiro, Flávio José, Jorge de Altinho e outros. Foi então que, em 1993, a banda Mastruz com Leite, fez grande sucesso com um forró diferente, o chamado “forró eletrônico”. Ao lado dela surgiram muitas bandas de forró como Cavalo de Pau, Mel com Terra, Magníficos, Calango Aceso, etc., dando início ao movimento “Oxente Music”.

Se por um lado essas bandas trouxeram o nosso ritmo mais tradicional para o topo das paradas, tornando o forró atraente para os jovens, elas também desvirtuaram o forró original, o típico “pé-de-serra”, e foram muito criticadas, inclusive por nomes como Alceu Valença e Dominguinhos, que batizou o novo ritmo de “Forró de Plástico”. Entretanto, até aí, as temáticas das músicas giravam principalmente em torno de amor e de temas nordestinos.

As festas da nossa região eram geralmente animadas por conjuntos musicais como Impacto Cinco, Montagem, Terríveis, Tuaregs, Grafith, Circuito Musical, etc. Eram bandas que tocavam de tudo, o que tornava as festas mais democráticas e menos tediosas. Tinha reggae, rock, axé, Jovem Guarda, música internacional, a tão esperada “música lenta” para os casais dançarem agarradinhos, além, é claro de forró. Em pouco tempo os conjuntos de forró foram ocupando o espaço desses grupos e passamos a ter festas inteiras só com forró, o que antes só acontecia nos “forrós” dos sítios.

Várias bandas se revezaram no topo das paradas. Recentemente, tivemos a fase em que o destaque era um forró mais romântico como os de Calcinha Preta, Limão com Mel e Desejo de Menina. Havia também um estilo que era mais característico das vaquejadas onde se destacavam nomes como Sirano e Sirino, Delmírio Barros, Tom Oliveira, Gaviões do Forró, etc. Com eles as canções giravam mais em torno da chamada “vida de gado”, falavam de cachaça, de prostituição, enfim, exaltavam o chamado “cabra desmantelado”. Nos últimos anos, no entanto, as outras bandas passaram a adotar esse repertório e, infelizmente, caíram na boca do povo.

Hoje vivemos uma fase terrível em termos de “gosto musical”, praticamente todos os hits incitam o consumo exagerado de álcool, tratam a mulher como objeto, exaltam a prostituição e a infidelidade, são tempos de Aviões do Forró, Duquinha, Saia Rodada, Garota Safada e muitas outras. O ideal para essas bandas é que os rapazes sejam “safadões” e as moças “raparigas”. É duro ver artistas como Flávio José dizendo que às vezes falta motivação para compor sabendo que um indivíduo gritando três palavrões fará muito mais sucesso. A própria banda Calcinha Preta cantou recentemente: “se falar de cabaré, tá estourado! Se falar que é cachaceiro, tá estourado!”. A que ponto chegamos!

No rastro dessa pornografia musical, para piorar, veio o modo de ouvi-la. Seja na base do “abra mala e solte o som” de Duquinha, ou do falado “paredão”, o que não faltam são imbecis que se exibem com sons nos mais altos volumes. Assim, além de ter a audição prejudicada pela poluição sonora, todos são obrigados a ouvir suas músicas. “Obrigados” entre aspas, pois a perturbação do sossego alheio é crime a qualquer hora do dia e as pessoas, depois de pedirem e não serem atendidas, deviam ter mais coragem de denunciar, os incomodados têm que mudar, como também as autoridades policiais devem intervir em prol da maioria.

Pode ser que alguns argumentem que se trata apenas de uma música e que ninguém está obrigado a fazer o que a letra diz. A realidade infelizmente mostra que essas músicas têm um efeito muito danoso. Hoje sabemos que a influência dos amigos é muito forte na formação da personalidade, na maioria das vezes maior que a dos pais. Sabemos também que o jovem procura sempre se destacar no seu grupo. Assim, tem sido cada vez mais comum vermos adolescentes consumindo álcool cada vez mais cedo, o que é muito ruim, pois os mecanismos cerebrais responsáveis pelo prazer ainda estão em formação nessa fase e ao experimentar o álcool será mais difícil largá-lo. Logo, quanto mais cedo se consumir, mais chances de tornar-se um alcoólatra. Outra péssima notícia é o aumento de garotas consumindo álcool. Parece que quem não se embriaga não tá com nada. Saia dessa! Seja mais você!

Ao contrário do que a música mostra, cachaça não tem graça. Embora seja uma droga liberada, seu efeito social é mais devastador do que outras que são proibidas. Se analisarmos os crimes veremos que em sua grande maioria são cometidos sob o efeito do álcool. A tão exaltada “bagaceira”, ou seja, aquele fim de festa com quase todos bêbados, é onde mais acontecem brigas que fazem com que muitos jovens percam suas vidas ou as estraguem com anos de prisão. Para comprovar outro lado sinistro do álcool, procure falar com uma família que tem um alcoólatra e também será fácil conhecer outras que foram destruídas devido à “branquinha”. Sem falar no nosso recorde de mortes no trânsito. Será que nunca vai acontecer com você?

Até bandas já consagradas como Mastruz com Leite aderiram ao baixo nível. Veja um trecho da mensagem de encerramento de um site de fãs de Mastruz: “o grupo tomou outros rumos. Aquilo que criticávamos em outras bandas, (a apelação exacerbada, a imoralidade), agora também é uma bandeira mastruzeira. Seríamos hipócritas, se defendêssemos o Mastruz em detrimento dos outros grupos, enquanto o Mastruz não é mais nenhum referencial da boa música”.

O escritor Ariano Suassuna, fez uma forte crítica ao forró atual depois de ouvir uma amostra com as músicas ‘Calcinha no chão’ (Banda Caviar com Rapadura),‘Zé Priquito’ (Cantor Duquinha), ‘Fiel à putaria’ (Banda de Felipão Forró Moral), ‘Chefe do puteiro’ (Banda Aviões do forró), ‘Mulher roleira’ (Banda Saia Rodada), ‘Mulher roleira a resposta’ (Banda Forró Real), ‘Chico Rola’ (Banda Bonde do Forró), ‘Banho de língua’ (Banda Solteirões do Forró), ‘Vou dá-lhe de cano de ferro’ (Banda Forró Chacal), ‘Dinheiro na mão, calcinha no chão’ (Banda Saia Rodada), ‘Sou viciado em putaria’ (Banda Ferro na Boneca), ‘Abre as pernas e dê uma sentadinha’ (Banda Gaviões do forró), e ‘Tapa na cara, puxão no cabelo’ (Banda Swing do forró). Segundo o mestre, “... o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na platéia’, alguma coisa está fora de ordem.

Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é ‘E vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente.

Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos… não precisa dizer mais nada…”

Ariano também enfatizou que uma situação musical semelhante aconteceu na antiga Iugoslávia quando o país estava esfacelando-se devido às guerras. Um estilo chamado turbo folk, com músicas de mau gosto cantadas por artistas seminuas, fez a cabeça da juventude. Um estudioso constatou que essa música representava uma geração que perdeu a crença nos políticos e nos valores morais.

Mas você pode pensar também que apenas ouvindo sua música não está fazendo mal a ninguém. Ora, você está ajudando a disseminar esse lixo e quantos mais ouvirem, muitos mais ouvirão, por que infelizmente, até pessoas com certo nível educacional, que deveriam levantar a voz e dar exemplo, estão nessa de “Maria-vai-com-as-outras”. Pare para pensar na música que você está curtindo. Eu teria vergonha de comprar um CD ou ouvir esse tipo de música. Ao levar um CD desses para sua casa pense nos valores que você está passando para seus filhos.

Estamos numa sociedade que carece de bons exemplos. Fico imaginando o que passa pela cabeça de figuras como “Wesley Safadão”, que sabe que faz a cabeça de muitos jovens e segue lhes orientando para o que há de pior. Temos que ter cuidado com nossos ídolos, na MPB e no rock, por exemplo, também temos nomes, que não são exemplos de vida pra ninguém, como Tim Maia, Cazuza e Renato Russo, é preciso discernimento. Figuras públicas deveriam ter mais cuidado com o exemplo que estão passando.

Essas bandas só pensam em dinheiro. Elas procuram apostar no que nos temos de pior e o sucesso que fazem mostram que nosso nível moral, educacional e cultural é péssimo. Nós somos mais culpados do que as bandas. Somos nós que disseminamos esse tipo de música. Somos nós que ligamos para as rádios e, ao invés de criticá-las, pedimos para ouvi-las. Existem alguns administradores que, por incrível que pareça, gostam dessas bandas que contratam, outros, no entanto, pensam politicamente e procuram agradar a maioria.

Não nos enganemos achando que só o forró exalta o que não presta, praticamente todos os ritmos o fazem. Temos o rock que também está associado a drogas, temos o axé pornográfico, o funk, e muito mais. Cabe um mínimo de bom senso para separar o joio do trigo. A música brasileira tem uma diversidade maravilhosa, além de ter muita música internacional bacana que nossa juventude está fadada a desconhecer limitando-se ao que há de pior de um único estilo ou ao que a mídia “manda” ouvir.

Enfim, ante o estrago que estas músicas fazem, não basta apenas que não ouçamos, é preciso que digamos em alto e bom som que elas não prestam, só assim influenciaremos outros e diminuiremos o prejuízo. Quando a chamada “questão de gosto” passa a prejudicar os demais ela tem que ser discutida sim. Ademais, acho que as pessoas deveriam pensar se realmente gostam dessas músicas ou se estão ouvindo só por que é sucesso. Quando Michael Jackson morreu muita gente que achava sua música e sua dança ridículas virou fã por um mês. Falta personalidade! Falta atitude!

P.S. Sobre as festas juninas, espero que muitos curtam, revejam os amigos, passeiem, namorem, paquerem ou “fiquem”, dancem (se possível, sem dar ouvidos ao que essas atrações vão cantar) e bebam com moderação. Boas festas!!!

Prof. Jocelino, Caiçara/PB, 17/06/2010.

Never can say goodbye.

Que fique bastante claro para todos nós uma verdade: tudo na vida chega ao seu ciclo final, cedo ou tarde. Na maioria das vezes, somos arrebatados por uma (amarga) surpresa, mas é preciso não se deixar levar pela emoção, e usar da razão pra entender que todos teremos o nosso último dia.

Não serei insensível a ponto de dizer que tratava-se apenas de um animal, e que por isso, não se deve dar tanta importância. Meu espelho sabe do meu rosto inchado, os meus olhos ardendo e das lágrimas escorridas. Mas não serei também irracional para blasfemar a Deus, ou odiar a tudo e a todos pelo que aconteceu.

Houve culpados, disso nós sabemos. Mas apontar dedos ao tal trará Babbih de volta? Não. Talvez seja um modo um tanto frio da minha parte de se pensar, mas sou adepta da frase "Não se deve chorar pelo leite derramado". Estamos passando pelo comum estado de luto, que apenas se trata de uma resposta normal a qualquer perda importante na vida. Sabemos também que pessoas enlutadas experimentam traumas tanto físicos quanto emocionais, enquanto tentam adaptar suas vidas aos abalos trazidos pela perda.

Há muito tempo, a psicologia reconheceu que o luto experimentado pelos proprietários de animais após a morte destes é o mesmo experimentado após a morte de uma pessoa. A morte de uma animal de estimação significa a perda da fonte de um amor incondicional. Afinal, de um animal, não cobramos nada, nem tampouco é necessário dar muito. E, em troca, recebemos muito carinho e reconhecimento, até mesmo pelo que não fazemos. Animais de estimação são carinhosos, e se nutrem a partir da doação de carinho ao seu dono, e isso somente o faz feliz.

Por isso, é tamanho o choque de um proprietário que tem de dar adeus ao seu bichano, sendo caracterizado por psicólogos como " a perda de contato o mundo natural". Esses sentimentos podem ser especialmente intensos nos idosos, solitários, ou casais sem filhos (para quem o animal é também um substituto da criança).

Apesar de tão bem estudado, o processo do luto não é um objeto concreto que pode ser dividido em partes distintas. O luto é um processo contínuo, em que cada pessoa vivencia-o de uma forma forma diferente. Dividir o luto em "fases" ajuda ao enlutado a entender que os seus sentimentos são normais. Algumas pessoas passam rápido por todas as fases, enquanto outras parecem ficar "presas" numa fase específica. Em tese, existem cinco fases do luto:

1. Choque e negação: A realidade da morte ainda não foi aceita. A pessoa que está sofrendo sente-se atordoada e atônita, como se aquilo que estivesse vivendo fosse irreal (sensação de estar vivendo um pesadelo)

2. Raiva: Impossível dizer que em situações como essas, não é desperdado em nós a raiva. É de suma importância a canalização de tal sentimento, mas que seja em alguma atividade específica, e não colocando a culpa em alguém. Mesmo assim, a pessoa enlutada frequentemente se volta contra a família, os amigos, a ela mesma, Deus, o veterinário ou o mundo em geral. Se a mesma for a dona principal do animal, é normal aparecer também sentimentos de culpa ou medo nesse estágio.

3. Barganha: Nessa fase, a pessoa pede por uma certa "recompensa" de Deus, do veterinário ou do padre. Comentários do tipo "Irei à Igreja todos os dias se o meu animal voltar para mim" são comuns de se ouvir.

4. Depressão: A depressão ocorre como uma reação à mudança do modo de vida ocasionada pela perda. Sentimentos de tristeza, desesperança, inutilidade própria e cansaço são estão presentes, por conta da falta que se sente do animal, e do pensamento constante nele.

5. Aceitação: Esta acontece quando as mudanças que a perda trouxe para a pessoa se estabilizam em um novo estilo de vida. Durante a mesma, ou até tempos depois, o dono pode pensar em comprar outro animal, e a transferir a ele todo o carinho que tinha pelo falecido.

A intensidade e a duração do processo de luto dependem de vários fatores. A idade do proprietário, circunstâncias referentes à morte, relacionamento do animal com o proprietário e com os outros membros da família são muito importantes. Geralmente crianças se recuperam mais rápido , enquanto os idosos são os que mais demoram a se recuperar.

Todos daqui de casa sentem muito a falta de Babbih. E eu ainda não consigo escrever nada conciso e real, porque ainda me encontro entre na fase um. Tudo bem. Logo mais pularei pra cinco, sem precisar ter raiva, barganhar ou entrar em depressão. Isto é, queira Deus.

2010: que seja doce.

Dizer que 2009 foi atípico é óbvio demais. Eis aqui uma pequena reconstrução do ano pra mim.

O ano passado terminou um tanto conturbado, namoros terminando, namoros começando, aceitações da família, amizades se deixando pra trás e outras pra se construir. Entrei numa faculdade. Fiz boas amizades por lá, e aprendi muito com certos relacionamentos nada saudáveis.

Ensinei a mim mesma como aceitar a dor da saudade, e quando estava pronta, recebi a feliz notícia que ele ficaria de vez, aqui do meu lado, sem quilômetros nos distanciando durante a semana. Me ensinei também a ter mais paciência com outras pessoas, porque eu já sabia que teria de conviver com gente assim na vida.

Selei fortemente o meu namoro, e criei laços firmes de amizade, dos quais até hoje colho louros. Esse ano fiz EJC, e posso dizer que esse Encontro fez uma diferença grande na minha vida. Conheci melhor algumas pessoas, tentei fazer amizades, mas quando um não quer, dois não brigam.

Quebrei a cara muitas vezes. Deixei de escutar amigos, namorado, mãe, pai e outras pessoas que me acompanhavam. Bati de frente em muitas das vezes que quis fazer tudo sozinha. Esse ano eu aprendi o quanto é valioso escutar as pessoas que prezam por você.

Me dediquei mais no estudo, e três questões me tiraram do vestibular. Três questões. Achava que era humilde o suficiente, mas pensar isso já não me fazia mais tão humilde. Esse foi outro aprendizado.

O ano de 2009 me proporcionou o prazer de ver que grandes amizades nunca mudam, e que novas amizades surgem e nos dão o prazer da fidelidade, mesmo que em pouco tempo. Também senti amor, mas amor de verdade, por alguém que hoje sei que sente o mesmo por mim. Em certos momentos estive triste e desencantada, mas entendi que esses momentos só surgem para nos provar que somos capazes de superá-los.

Hoje posso dizer que 2009 me transformou numa busca incessante para me tornar o que quero ser, sem nunca me contentar com aquela que vejo no espelho. Afinal, uma coisa é verdade: se olharmos o nosso lado bom e gostarmos dele, iremos esquecer que temos também um lado negativo. Dessa forma, seremos mais desleixados, e cuidaremos menos de nós mesmos. Por isso, prefiro sempre pensar que não estou boa o suficiente, que o meu mais é sempre menos, e que eu sempre, sempre, sempre poderei ser melhor do que sou hoje. O ano de 2009 me ensinou que o céu é o limite, e que barreiras nasceram para ser cruzadas.

Meu eu criança.

Desde criança, um dos meus maiores "vícios" era a televisão. Como toda e qualquer infante, os desenhos me encantavam, pelas animações, pelo humor e pela alegria que despertava boas gargalhadas, pelos traços engraçados ou até grotescos propositais das mãos de um bom roteirista. Sempre fui fã de desenhos, mesmo dos de ação, apesar de ser uma garotinha.

Na companhia dos meus irmãos, assistia muito o Warner Channel, e éramos fissurados nas criações do Spielberg - Animaniacs, Pink e o Cérebro e Freakazoid. Repartíamos o sofá também na hora de assistir filmes de comédia (meu gênero favorito), e recordo que o meu irmão mais velho (Rodrigo) assumia o comando em algumas idas às locadoras e optava na maioria das vezes por filmes dublados. Sou fluente em inglês há um bom tempo, e sempre preferia os legendados, mas no final, acabava gostando mais das vozes em português. Não somente porque era a língua mais comum aos meus ouvidos, mas porque convencia mais, soava mais real e transpassava até mais emoção que ler as frases da tela e ouvi-las em inglês.

Ainda criança, assistia muito ao Cartoon Network, e tive a oportunidade de ver o nascimento das Meninas Super-poderosas. Disso recordo bem: havia um programa do CN chamado "Desenhos incríveis, o Show", onde passavam três episódios de um desenho desconhecido. Não tenho certeza se funcionava assim, mas aparentemente o programa funcionava como uma "Prova de Fogo". Os desenhos que passavam ali e caiam no gosto do público logo mais teriam o seu próprio programa (e espaço) no canal. Aconteceu isso com Du, Dudu e Edu, Coragem, o cão covarde e com outros um tanto menores, do qual não recordo bem.

Me tornei fã das "Meninas Super-poderosas", mas o personagem que mais me cativou de todo o desenho não fazia parte do trio feminino. Era um personagem estranho, que me causava um pouco de medo, mas ao mesmo tempo me fazia rir. Era vermelho e tinha patas de lagosta, mas pra mim, lembrava o diabo. Talvez fosse essa a idéia de Craig McCracken ao criar um personagem com o nome de "Ele" - ou não. De qualquer forma, ele me chamava muita atenção, principalmente pela versatilidade da voz, que variava do agudo ao grave em segundos. Apesar de ser um vilão, eu gostava dele, e ele foi o motivo que me fez continuar a assistir as "PowerPuff Girls".

Falando ainda no Cartoon Network, outros desenhos me divertiam bastante, como "O laboratório de Dexter" e o destrambelhado "A vaca e o frango" (com "Eu sou o Máximo e Babão" em anexo, até virarem um desenho propriamente dito). Eis outra coisa da qual me recordo bem: "A vaca e o frango" passavam no Cartoon Network Às 21h, e o último episódio (eram sempre três, na sequência) era de "Eu sou o Máximo e Babão". Até da música - incrivelmente tosca - eu lembro, e isso faz meus olhos encherem de lágrimas e alguns arrepios surgirem. Sim, eu sinto saudades da minha infância, apesar de ter sido bem vivida. A música de abertura deles era mais ou menos assim:

"Não precisa de calça,
Fica bem assim,
O babão é melhor que o Possante
É a grande estrela do desenho animado..

"Eu sou o Máximo!"

O Babão acha mesmo que ele é o rei
Mas só faz besteira,
Nunca se dá bem.
E advinha quem ele vai sempre encontrar?

"Eu sou o Máximo!
Eu sou o Máximo!
Eu.. sou o Mmmmáximo!"


Possante era o outro nome do qual chamavam o Máximo. Era o desenho mais divertido da série, apesar de que tanto "A vaca e o frango" quanto "Eu sou o Máximo e Babão" tinham uma senhora liberdade, e as vezes até ultrapassavam um pouco da censura. O mais engraçado da dupla era, claro, o Babão, um babuíno burro de dar dó, que falava tudo errado e só se metia em encrenca. Eis aí outro personagem que me prendia a um desenho.

Foi mais ou menos nessa época que conheci juntamente aos meus irmãos o "Freakazoid", um desenho mais elaborado e até mais adulto (mas não no quesito "sacanagem"). Gostávamos tanto que gravávamos em fita alguns episódios pra assistirmos depois. Quando o Frika soltava uma de suas pérolas, ríamos e depois voltávamos a fita quantas vezes fossem necessárias até a sede de riso acabar.

No período adolescente, assistia também a Nickelodeon e conheci o desenho "Castores Pirados". Quando ouvi o Daggett (o castor marrom) falar da primeira vez, sabia que aquela voz era bem familiar. Instantaneamente, me tornei uma fã do desenho e do personagem. Na mesma época, passei a assistir mais filmes dublados, e depois de "O Grinch" e "Toy Story", fiquei muito intrigada com as vozes dos personagens do Grinch e do Buzz Lightyear, mas ficou só na cabeça.

Há uns anos, já mais adulta que adolescente, vidrei na Fox Kids num desenho chamado "Padrinhos Mágicos". Aos dezessete anos, quase mais ninguém assistia desenho, então eu não poderia saber quem assistia e quem não assistia ao tal. Mas uma coisa era certa: das 11h ao 12h na Fox Kids, eu me sentava no sofá pra assistir "Padrinhos Mágicos", fosse de criança ou não. E eu gargalhava até doer a barriga. Novamente, aquela voz familiar, agora empregada no personagem "Cosmo", o padrinho mágico de cabelo verde, sem um pingo de juízo na cabeça. Aquele jeito de falar, aquela voz.. Meu Deus, QUEM É ESSE CARA?

Esperei até o fim dos créditos do desenho. "Cosmo - Guilherme Briggs". Poxa, mas quem diabos é esse Guilherme Briggs? Tasquei o Google nele, e descobri que fora aquela voz que me acompanhou durante tantos momentos da minha infância, da minha adolescência e do meu período atual (que não chega a ser fase adulta por completo, visto que só tenho vinte aninhos) - nos desenhos, nas animações e nos filmes. Fiquei pasma com tanto talento e versatilidade em personagens tão diferentes. Ainda no Cartoon Network, tive a chance de pegar a fase do "Adult Swim", e me divertir com o Briggs como "Capitão Hank". Sem dúvida, um dos meus preferidos!

Como disse anteriormente, de início, eu era daquelas que preferia os filmes legendados, por gostar tanto do inglês. Não é bem o meu caso, mas boa parte das pessoas que conheço preferem os legendados, porque "o original é melhor", ou porquê acham careta assistir um filme dublado na sua própria língua. Pra mim, isso é coisa de quem se deixou levar pelo "Americanalhismo" (sim, um trocadilho infame). Quero dizer, o inglês é ótimo, a América do Norte nos trouxe muitas boas produções, e traz até hoje, mas devemos preservar primeiro o nosso, e valorizar, nesse caso, a nossa língua, e não somente a deles. Filmes como "Todo-Poderoso" e "Desventuras em série" são bem mais divertidos na versão dublada que na voz do próprio Jim Carrey (embora ele seja um grande ídolo meu).

Graças a descoberta de Guilherme Briggs, pude conhecer o trabalho de outros dubladores e me encantar mais por essa profissão que muitos julgavam ser fácil. Um dublador é um ator que se apresenta nos bastidores, que não precisa de nada além da própria voz pra mostrar seu potencial. O Briggs é um exemplo claro disso: além de excelente dublador, mostra um baita serviço dirigindo grandes produções (como "Os Simpsons - O filme" e o mais recente "Avatar"). Me tornei fã de carteirinha dele ao descobri-lo. Além do seu trabalho, procurei saber de sua história pessoal, o que me fez admirá-lo ainda mais. Não gosto de idolatrar as pessoas, mas seria escasso chamá-lo de outra coisa senão de meu ídolo. Melhor ainda é saber que esse cara é um carioca da mais pura simplicidade, além de ser um amor de pessoa e dedicar tanto carinho àqueles que o admiram.

Por conta da internet, muitos fizeram como eu e o descobriram, fazendo aumentar sua legião de fãs. Mesmo com tanta gente, ele se vira pra dar conta de todo mundo, e sempre que dá, responde um tweet, dá um recadinho, um "oi" ou o que seja. Se não dá mais do que isso, é porque o trabalho e a vida pessoal o consomem também - e cabe a nós fãs (ou admiradores, se ele preferir assim) entendermos, respeitarmos e nos contentarmos com a atenção que já nos é dada. Ele faz questão de manter uma relação estreita com aqueles que curtem o seu trabalho, e por nunca ter deixado a fama chegar à sua cabeça, ele é um artista tão querido por seus fãs.


Guilherme, te desejo um Feliz Natal e um 2010 repleto de realizações na tua carreira profissional e na vida pessoal também. Muitas felicidades o lado da Fran e do Tobias, e que Deus te ilumine bastante, e continue fazendo de você esse homem tão carismático e bem quisto por todos que conhecem um pouco de você.

Um abraço bem carinhoso,


@RaissaMateus


(só quero relatar aqui quão grande foi minha felicidade em receber a resposta - SIM, o Briggs falou comigo! Pois é, momento fanzine chucrute.. - do próprio. Aliás, que resposta. Ok, época natalina deixa a gente mais sensível, mas como um bom macho (coisa que eu não sou) diria, ele me fez suar pelos olhos! Palavras lindas do Briggs, que guardo com muito carinho. Ah, ainda chegará o dia em que eu entrarei num avião com destino ao Rio de Janeiro apenas para conhecê-lo pessoalmente. Pode parece fácil pra quem viaja o tempo inteiro ou que vê ofertas de passagens por R$ 0,99. O problema sou eu - quer dizer, está em mim: detesto aviões. Não morro de pânico, nem muito menos de amores. Viajei apenas uma vez pro Rio Grande do Sul, e a experiência não foi das melhores. Mas, vamos combinar? Pelo Briggs, vale a pena até andar de elevador. Será mesmo? Vish.. Nem brinca com isso!).

Who are you?

Eu sou o frio do inverno e a simpatia do verão. Sou um pouco do triste outono, e o colorido das flores da primavera. Sou cidade que não tem estação definida. Sou qualquer estação.

Sou Woody Allen. Sou Daniel Gildenlow. Audrey Hepburn. Friedrich Nietzsche. Machado de Assis. Johnny Depp. Sou Mc Dreamy. Sou Chico Buarque. Sou MPB. Sou Veríssimos - pai e filho. Sou chocolates, queijos e vinhos, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou metrópole.

Sou bubbaloo de morango. Sou Schweppes Citrus bem gelada. Sou salpicão sem passas. Sou camarão à romana. Sou picanha bem passada sem gordura. Sou sorvete de menta com chocolate. Sou lagosta flambada no whisky. Sou cachorro-quente à minha moda, sempre acompanhado de catchup e mostarda. Sou alergia à pimenta.

Sou livros. Discos. Dicionários. Sou Caio Fernando Abreu, Martha Medeiros e Clarice Lispector. Sou asco a Diogo Mainardi. Sou livros de auto-ajuda. Revistas. Sou mapas. Sou trilhas. Sou Internet. Já fui muito tevê, hoje só um pouco Sony. Sou mp3 player do celular. Heavy Metal. Cinema. Teatro. Teatro. Teatro. Mas hoje, mais cinema. E a tevê da sala, claro.

Sou culinária francesa. Sou caviar e salmão defumado, sou o meu estômago vaidoso. Sou o feijão-com-arroz diário. Club Social recheado. Suco de maracujá da minha sogra. Pavê de sonho de valsa, que igual o meu, não há. Sou uma caixa de bis branco indo embora numa tarde qualquer. Sou Friends. Two and a half men. Grey's Anatomy. Sou filmes cult. Sou cinema mudo. Sou preto no branco.

Sou flores em qualquer estação. Sou surpresas, sou encantos, sou cartões sem data, sou chocolates. Sou T. M. L. B. T. P. I. A. Y. - até minha morte -, a sigla secreta que ninguém sabe o significado. Sou perfumes fortes. Corrente com mil medalhas. Aliança de compromisso. Pulseira de ouro no braço esquerdo. Sou cintura fina. O nariz que um dia hei de consertar. Sobrancelhas arqueadas. Sou ironia. Sou sarcasmo. Sou atriz, quando preciso. Sou quem meu coração me manda ser.

Sou a magra que quer engordar um pouquinho. Sou 36 na calça e 44 no busto. Sou sapato 37/38. E de vez em quando 39, mas isso é segredo. Sou vestidos tomara-que-caia. Sou 'metaleira' que
gosta de rosa. Sou coturno com minissaia. Sou calça cargo e salto agulha. Sou camisa do Maiden com escapulário. Sou desavenças, contradições, antíteses e paradoxos. Sou o equilíbrio libriano. A
harmonia. O menos pelo mais. E sou mais ele que eu.

Sou apaixonada. Sou os meus amigos, e o meu tão sonhado dia com trinta horas. Sou agenda lotada. Sou estudos. Sou o meu namorado e as saídas no sábado. Sou missa aos domingos com os sogros. Papos com a sogra. Sou fofoca inofensiva. Sou celular ligado a noite inteira. Sou mensagens à madrugada. Sou sorine dormindo embaixo do meu travesseiro. Sou sono
agarrado com a minha pêra e o meu pinguim de pelúcia.

Sou presentes fora de hora. Sou comemorações todo dia 20 de cada mês. Sou bolo de chocolate com cobertura de mármore. Glacê. Algodão-doce. Açúcar, muito açúcar. Sou açaí com mel e sem banana. Sou milkshake médio de ovomaltine. Sou empanado de camarão da Sonho Doce. Sou sushi. Sou kani saki sem gergilim e cebolinha. Lâminas de salmão. Sou temaki Ferrari. Mas não sou sushi de manga com kiwi.

Sou vermelho. Sou palidez. Sou camadas cortadas com navalha 12 e a eterna franjinha desfiada. Sou jeans, mas com stretch. Sou canetas coloridas. Sou ventilador de teto. Sou carona. Sou mamãe-vem-me-buscar. Não sou bicicleta, mas já fui skate, patins e patinete. Hoje sou sedentarismo, que não anda até a próxima esquina a pé.

Sou meus três malteses, e os trocentos animais que moram na minha casa. Sou filmes que nunca irei assistir. Sou quarto desorganizado. Sou guarda roupa sem espaço pra um alfinete. Sou banho demorado, seguido de um segundo banho - de hidratantes. Não sou academia, mas digo que serei toda segunda-feira. Sou mar e céu abertos. Não sou areia. Sou Paris e Lion. Inglaterra. Jampa. Recife e Fortaleza. Sou o sul que tanto paquero. Sou o Rio, minha futura casa.

Sou mais prata que dourado, mais regata que babylook, mais Ivete que Claudinha, mais Scorpions que Dream Theater, mais mesa que cama, mais noite que dia, mais flor que fruta, mais doce que salgado, mais música que silêncio, mais Adidas que Nike, mais Calvin Klein que Dior, mais Diesel que Armani, mais doce que amadeirado, mais pizza que banquete, mais champagne que caipirinha. Sou champagne a qualquer hora. Sou vinho tinto suave. Sou a Bohemia tinindo do Bebe Blues. Ou Chicletinho. Sou Chiclete com Banana. Sou chiclete de hortelã.

Sou esmalte vermelho-sangue. Sou unhas quadradas. Sou cara lavada. Sou a preguiça das maquiagens. Sou, aos sábados, delineador preto e sombra escura. Sou roupas pretas - sempre. Shortinho curto ou calça comprida, mas nunca o meio termo. Scarpins e saltos altos. E rasteira, quando em vez. Sou decotes generosos e sou gola rolé. Sou do clássico. Pin-ups. Anos 50. Vermelho, preto e branco. Sou o tricolor paulista. Sou meia-três-três. Sou vermelho na boca, preto na roupa e branco na pele. Sou vinte e oito de setembro. Sou caçula. Sou menina, moça e mulher. Sou Raissa Mateus, e sim, esse é o meu nome completo. E você, quem é?

Sobre "Dea Pecuniae".



Quando escutei essa música pela primeira vez, achei ela engraçada e irônica, mas não passou muito disso. Até que fui escutando mais e mais vezes, e fui entendendo aos poucos o sentido real de todo o cd ("Be"). A priori, é bom saber o que diabos significa "Dea Pecuniae". Encontrei uma resposta em latim, onde "Dea Pecuniae" significa "Deusa do dinheiro". A partir daí, fui procurando saber mais da música, e me surpreendi com a capacidade de (principalmente) Daniel Gildenlöw. E, não, eu não deveria ter ficado tão surpresa assim.

O pouco que eu sei sobre o "Be" é que é um disco temático que trata em geral sobre o ser humano, levantando questões sobre Deus, o materialismo, a ganância, a criação do mundo e a existência humana. Depois de ouvir e refletir sobre a mensagem que o álbum passa, ficam algumas perguntas passeando pela mente: Será que, se fôssemos de fato uma experiência divina, e se recomeçássemos do zero, nós cometeríamos os mesmos erros e chegaríamos ao mesmo patamar? Será que, quando Deus nos criou, ele realmente pensou em fazer um ser à sua imagem e semelhança? Ou será que a criação humana foi uma tentativa de Deus de tentar compreender sua própria existência? Será possível superar essa eterna vontade de ser e ter, que caracteriza o impulso materialista e ganancioso, comum do ser humano?

O disco em si mexe com vários momentos, em ordem progressiva, desde a criação até a existência do homem, passando por Nascimento, Vida e Morte e Juízo Final. De fato, uma obra-prima, que se baseia no conceito de excelentes escritores, como Isaac Asimov, Carl Sagan e até o famoso Stephen Hawking.

A música da qual optei por falar, "Dea Pecuniae" tem como centro Mr. Money, que representa não somente o dinheiro em sim, mas tudo que há de materialista neste mundo. Ela é dividida em três tempos, entitulados por "I. Mr. Money", "II. Permanere" (quer dizer "frio", também em latim), e "III. Raise my glass" (que, assim como em outras partes da música, significa o brinde e a celebração ao materialismo e ao dinheiro).

Não se faz necessário dissecar a letra da música, mas somente ouvi-la (bem como a tradução, vale salientar) e deixar ser convencido pelo próprio Gildenlöw. Uma das partes mais interessantes da música, que faz uma crítica ferrenha à sociedade, inclusive àquela minoria que o escuta, está na parte III, quando Mr. Money diz: "Vejam: assim como eu, vocês vivem para mim até o dia de suas mortes. Por isso, eu brindo a todos vocês que realmente acreditam que sou pago pela minha enorme responsabilidade, pra todos vocês que caem nessa e pagam as minhas contas, e pra todos vocês que pensam que meu modo de vida não afeta o meio-ambiente ou a pobreza... Bem, talvez não mais do que marginalmente. Que bom pra vocês! E querem saber? Um brinde a vocês... Ergo a minha taça para aqueles entre vocês que dão suas fatias do bolo de graça para que eu as jogue na cara da democracia, para aqueles que ajudam a tornar a solidariedade ideologicamente fora de moda e a caridade individualmente idiota, não sábia e característicamente maleável. Eu vos saúdo, pobres bastardos, porque todos vocês consentem enquanto eu sento à vossa mesa. Vamos brindar uma última vez, para dar a todos vocês o maior reconhecimento e crédito de todos os tempos - porque, afinal de contas, vamos encarar, esse é o único "obrigado" que vocês algum dia receberão. Então vamos lá - levantem suas taças! Um brinde a vocês! Nada restará - não! Nada, além do dinheiro."


E é assim que a música termina. A última frase dela faz tintilar na mente aquela antiga frase que sempre escutamos: "Desta vida, nada levaremos". De que importa almejar tantas riquezas e construir tantos patrimônios durante a vida, se não poderemos levar nada quando fomos embora deste mundo? Claro, não condeno a busca pela felicidade terrena, fazer isto ou aquilo porque te traz felicidade. Mas discordo do exagero, do muito fazer pelos outros, da demasia e da ganância, do excesso de materialismo. E não sejamos hipócritas, diheiro traz sim felicidade, pra quem sabe usá-lo. E assim como todas as outras coisas mundanas, digo e repito (e reafirmo que a frase torna-se cada vez mais incidente porque sou uma libriana, que preza sempre pelo equilíbrio - embora eu não acredite em Astrologia) que tudo demais é veneno, inclusive o dinheiro. Gildenlöw, assim como eu, condena somente o exagero, afinal, ninguém se convence de que o dinheiro que tem é o suficiente, e acaba fazendo da vida uma eterna busca por mais e mais dinheiro. Engraçado, não?

Eis o vídeo da música. Vale a pena. ;)

Raissa Mateus

Inconfundivelmente inconstante. Mudo de horários, de fatos, de pessoas, de lugares, de estilos, de pensamentos, de atitudes, de conceitos, de rotinas. Já tentei ser parecida com muita gente que eu tomava como modelo, mas aos poucos percebi que não dava certo. Resolvi partir pra outra e tentar ser eu mesma, falando, pensando, agindo e fazendo (ou pelo menos tentando fazer) o que quero. Não sou de muitos, mas dos poucos que sou, sou por inteira. Amo todos com que faço questão de manter contanto. Já fui muito sonhadora, já quebrei muito a cara, já fui muito feliz, já passei por bons, maus, péssimos e ótimos momentos. Já tentei agradar todos, e o exagero de pretensão me faz ainda insistir na possibilidade remota de não ser detestada. Hoje não sou nada mais que um ponto de interrogação junto a um ponto de exclamação. A cada centímetro, uma surpresa, e a cada surpresa, uma dúvida. ;)